Você sabe o que é Engenharia Clínica? Entenda!

Entenda como um profissional que une as áreas de engenharia e saúde pode ser tão essencial para a administração hospitalar e segurança dos pacientes

Entenda como um profissional que une as áreas de engenharia e saúde pode ser tão essencial para a administração hospitalar e segurança dos pacientes

Talvez pouca gente saiba, mas um dos profissionais mais importantes para o bom funcionamento dos hospitais pode não possuir um diploma de Medicina, tampouco Enfermagem. A verdade é que o profissional que atua em Engenharia Clínica se dispôs a seguir um rumo distinto de sua graduação, especializando-se na área de saúde. Suas competências lhe permitem atuar em diversas atividades estratégicas dentro dos estabelecimentos assistenciais, colaborando para entregar aos pacientes um atendimento seguro e de excelência

Filha mais nova da Engenharia Biomédica, a Engenharia Clínica trabalha com a aplicação de técnicas de gerenciamento e garantia de qualidade das tecnologias em saúde, o que auxilia a administração na tomada de decisões relacionadas ao universo tecnológico, tendo como consequência mais evidente a harmonia entre profissionais de Medicina.

Para isso, os administradores buscam nos candidatos à vaga de Engenharia Clínica a disponibilidade para manter presença, exercer liderança e estimular a autossuficiência em atividades de manutenção e, quando isso não for possível, a capacidade para assumir de forma eficaz a supervisão técnica nos serviços contratados. Portanto, o profissional que atuará em Engenharia Clínica precisa ter audácia para se empoderar e assumir a responsabilidade pelo planejamento, definição e execução de programas de manutenção. Isso inclui a administração de riscos, melhorias da qualidade dos serviços e otimização da produtividade de todos os funcionários, através da difusão de informações em uma linguagem mais acessível, sem perder, contudo, o papel de liderança e referência técnica.

Além disso, o Engenheiro Clínico personaliza a confiança e parceria da administração ao participar de todas as fases multidisciplinares do processo de aquisição de novas tecnologias, sendo o responsável pelo seu recebimento, manutenção, testes de aceitação (verificação) e treinamento de funcionários, além de participar das comissões para padronização de materiais médicos. Seu papel não se limita a indicar marcas ou modelos, mas fomentar sua utilização plena, a fim de prover máximo retorno sobre o investimento realizado e manter virtuosa a relação entre instituição e mercado de saúde, vigilância sanitária e organismos de acreditação da qualidade hospitalar.

Engana-se quem pensa que o trabalho de Engenharia Clínica começa apenas depois que o hospital está em pleno funcionamento e que se limita à manutenção. Ainda na fase de estruturação das obras, o profissional colabora com a planta de pré-instalação dos equipamentos e com seus requisitos de transporte e guarda temporária. Seu trabalho também consiste em ajudar a dimensionar áreas físicas e sugerir os melhores locais para as instalações elétricas, hidráulicas e de gases medicinais. O trabalho dos Engenheiros Clínicos ainda vai além e abrange temas como o da segurança hospitalar, no que diz respeito ao cumprimento das normas de órgãos reguladores. São eles que recebem auditores e fiscais que desejam conhecer os processos envolvidos. Logo, outra atribuição desses profissionais relaciona-se com a verificação periódica in locodo desempenho de todas as tecnologias e o gerenciamento de resíduos gerados por elas. Assim, eles contribuem ativamente para o programa de descarte dos materiais, tais como baterias, lâmpadas, lixo radioativo, lixo tóxico, partes e peças usadas, e até mesmo equipamentos desativados. 

Apesar da importância desse profissional, ele ainda é pouco absorvido pelo mercado. Nos EUA, cada hospital com capacidade maior que 300 leitos é obrigado a ter um departamento especialmente dedicado à Engenharia Clínica. No Brasil, por outro lado, entre as quase 7 mil instituições de saúde, somente os hospitais universitários, os grandes hospitais privados e alguns institutos o possuem e se beneficiam de sua presença. Em 2010, visando mudar este cenário, a ANVISA passou a exigir que cada instituição de saúde tenha ao menos um profissional de nível superior dedicado à Engenharia Clínica. Hoje, embora existam já vários centros de formação espalhados pelo país com registro no Ministério da Educação (MEC) para a especialização na área, as instituições de saúde manifestam diferentes meios de suprir a vaga de Engenheiro Clínico.

Cuidados na contratação de assistências técnicas multimarcas

Certos estabelecimentos, sobretudo os de natureza pública, ainda justificam processos de contratação de consultorias de assistências técnicas multimarcas como se fossem serviços de Engenharia Clínica, argumentando a raridade do profissional no mercado e visando resolver, de imediato, a deficiência de mão de obra técnica perante as aflições de manutenção. Outros preferem contratar apenas um profissional para intermediar a prestação de serviços de tais assistências técnicas, mas com acúmulo de outras funções ou dedicação part timedevido à limitação financeira para investimentos. Isso resulta em controle parcial. Contudo, há administradores e executivos que já perceberam as vantagens de organizar departamentos de Engenharia Clínica aproveitando talentos locais ou da própria instituição, com o auxílio de consultores exclusivos. Para estas lideranças, os consultores exclusivos devem ser dedicados somente à estruturação da Engenharia Clínica em si. 

Sabe-se que, na falta de profissionais autossuficientes e dotados de senso crítico, os administradores convivem com problemas de ordem ética. Sem uma equipe confiante e confiável para supervisão e controle, algumas empresas revendedoras de peças ocupam livremente o departamento que deveria estar sob a responsabilidade de profissionais isentos de influências externas. Tais influências podem se materializar no favorecimento frequente dos mesmos fornecedores, desvios de equipamentos médicos do parque tecnológico, manutenção ineficiente e/ou aplicação indevida de recursos, inclusive, humanos. Todas essas atividades sem controle acabam por resultar em precarização gradual do patrimônio, crescimento da dependência técnica e fragilização da saúde financeira da instituição. Por isso, os consultores exclusivos em Engenharia Clínica atuam unicamente na metodologia de composição de cenários: agem com isonomia e ética para solucionar os conflitos de interesses entre a administração, os funcionários e as diversas empresas contratadas.

O serviço exclusivo de consultoria tem duração pré-estabelecida, visa implementar ações mensuráveis de independência em Engenharia Clínica e é procurado cada vez que a instituição de saúde precisa de apoio para passar por certificação em qualidade, por exemplo, ou quando é necessário rever os investimentos para garantia da credibilidade perante acionistas ou comunidade. 

Em síntese, pode-se dizer que a expertise do profissional de Engenharia Clínica é indispensável para o cuidado com os recursos tecnológicos, para a defesa da sustentabilidade do hospital enquanto negócio de saúde e para a composição do time que todos os dias se dedica a salvar vidas.