Ao chegar em um hospital que não possui um time de Engenharia Clínica, a primeira tarefa do engenheiro é montar uma equipe técnica produtiva. Esse passo implica em uma escolha importante: deve-se investir um valor alto e selecionar um time experiente de engenharia na área da saúde para alcançar autonomia integral ou acreditar em uma equipe iniciante buscando autonomia parcial e complementada pela contratação de empresas terceirizadas?
Na realidade atual dos hospitais brasileiros, o que mais se vê é a adoção de um modelo tímido em visão e propósito quanto à equipe de Engenharia Clínica. Frente às novas necessidades do mercado e aos avanços tecnológicos, emerge um novo modelo, em que a principal diferença está no ganho de produtividade, incremento de segurança e no retorno financeiro.
A atual engenharia na área da saúde
Seguindo um modelo arcaico usado amplamente até hoje, é comum nos depararmos em hospitais com equipes técnicas limitadas.
Muitas vezes, essas equipes estão conformadas em ceder os equipamentos médicos a profissionais de empresas terceiras, ficando restritas a tarefas básicas e administrativas, como por exemplo:
- ofertar pequenas orientações de uso para o setor de enfermagem;
- fazer reparos simples;
- redigir documentos e preencher formulários em papel ou em um sistema de gestão;
- buscar equipamentos para calibração ou manutenção.
A protagonização da engenharia na área da saúde nesse cenário não é da equipe interna da instituição, mas sim de visitantes. Esse fenômeno comum se origina na decisão de montar uma equipe limitada, que depende de terceiros, muitas vezes com relações desequilibradas com fornecedores de manutenção.
Isso faz com que, em diversos casos, a equipe não tenha consciência de sua verdadeira vocação e acaba inibindo a supervisão exigente na realização das manutenções terceirizadas. Sem essa atividade, a qualidade dos serviços e a seleção das melhores empresas se tornam secundárias, o que pode prejudicar o paciente e a saúde financeira do hospital.
Outro ponto que leva a equipe a ter uma atuação limitada diante da diversidade tecnológica é o conhecimento incompatível com este universo e ao objetivo de crescimento profissional. Na maioria das vezes, os cursos mais comuns citam ‘você não pode’ e ‘deixe isso para o fornecedor’ com relação à prática técnica, sob o pretexto de focar apenas em gestão e não na atividade realmente aplicada na tecnologia. Dessa forma, a base tecnológica necessária para a gestão fica em segundo plano, cedendo espaço para a gestão meramente administrativa.
Todos esses fatores são permeados pelo medo de ousar. Isso se deve à repetição de punições por muitos fornecedores, com ameaças de fiscalizações e auditorias como mensagem essencial do discurso comercial.
A promoção de uma equipe emergente
O cenário arcaico que descrevemos começa a dar espaço para uma nova equipe de engenharia na área da saúde. Esse time emergente pode ser considerado mais ousado e dinâmico, com ideal de autossuficiência.
O primeiro integrante dessa nova formatação é o profissional que ocupará a cadeira de Engenheiro Clínico. Ele precisa deter o conhecimento tecnológico e prático, tendo alto nível de atitude e confiança, indo além do perfil apenas administrativo gerencial. É ele quem deve romper os velhos costumes e pensar diferente.
O Engenheiro, com energia e dedicação suficiente, poderá selecionar, no mercado local, uma equipe de profissionais técnicos que não precisam ter conhecimento na área médica, e capacitá-los. Consideramos isso possível por dois fatores essenciais:
- a possibilidade de contratar os instrumentos de análise e calibração por comodato em vez de comprá-los – se for possível ter o sistema de gestão informatizado como bônus, melhor ainda;
- e a aproximação com os fabricantes e assistências técnicas está mais facilitada pela diversidade de opções, e isso age no sentido de criar um canal de suporte para peças originais ou de locação de equipamentos médicos em situações especiais.
Para a meta ideal de autossuficiência técnica, o sistema de gestão precisa ser desenhado para ter sintonia com os valores de independência. A Engenharia Clínica precisa ser vista como se fosse ela mesma uma empresa de prestação de serviços em processo de amadurecimento.
É esse o setor que oferecerá treinamento, calibração e manutenção, sendo capaz de cobrir grande parte do espectro tecnológico do hospital. E um setor/uma empresa assim deve proteger seus dados de similares e concorrentes. Isso quer dizer que a Engenharia Clínica deve garantir que fornecedores destes serviços não tenham acesso às suas informações estratégicas. Mais ainda, ela deve concorrer colaborativa e respeitosamente com estes fornecedores externos de serviços. Assim, o setor atrai para si mesmo, sob a forma de investimentos do hospital ou valorização da profissão, os valores que seriam pagos em contratos. Dessa forma, é proporcionando para cada integrante da equipe técnica uma maior realização profissional e uma nova perspectiva: prover serviços para outros hospitais, clínicas ou estabelecimentos de saúde no futuro.
Nesse cenário, o fornecedor externo que se apresenta como alternativo acaba sendo requisitado em momentos cada vez mais raros de suporte. Ele se torna um apoiador da independência técnica e financeira da equipe.
O profissional terceirizado se apresenta como alternativa para o provimento de peças e materiais que não são obtidos pelos canais preferenciais com o fabricante, porém de forma legal e com garantia. Essa contribuição torna essas empresas interessantes e complementares a cada nível de amadurecimento da equipe técnica.
Dessa forma, a estrutura passa a contar com ações mais focadas na segurança de todos os profissionais de medicina: a equipe fará todas as calibrações e verificações ao longo do hospital, carregando consigo os padrões de teste. Ela entrará antes da admissão do paciente no bloco cirúrgico ou no centro de terapia intensiva, e testará todos os equipamentos para prover a liberação do serviço. Os dados coletados por si só já serão usados para os certificados de calibração, com forte queda nos custos praticados. A própria manutenção preventiva será realizada nos setores assistenciais de forma mais descomplicada, rápida e clara, com planejamento detalhado.
A comunicação de exigências legais via fornecedores será sempre validada diretamente com os canais oficiais: a equipe técnica fará estudos sobre os textos que regulam as atividades e seus requisitos, os riscos envolvidos e guardará a identificação detalhada destes profissionais para consulta futura e histórico. Cada visita será guiada mediante acordo de sigilo e roteiro estruturado para demonstrar sua razão de existir e efetividade. Somente após estes estudos, eventuais contratos adicionais serão realizados com o hospital até que se encontre um caminho mais viável para a realização das atividades técnicas.
Se você deseja fazer parte desse novo capítulo na história da engenharia na área da saúde, converse com a Aclin e veja como evoluir sua equipe!